sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Dor de cotovelo agora, também é virtual!

Já falamos aqui da fragilidade das relações humanas ao citar Bauman, da natureza misteriosa que compõe os vínculos humanos, gerando dúvidas quanto ao que fazer: devemos apertar os laços ou mantê-los frouxos? Em outras palavras, quando as pessoas vivem uma relação amorosa, ou até mesmo uma amizade, surge a dúvida: “devo pegar no pé?” ou “deixar para ver no que vai dar”? “Ligo para saber como está?” ou “aguardo mais um pouco, para não parecer que estou cobrando algo”? Em tempos de Internet, principalmente com a febre das redes sociais (Facebook, Orkut, Badoo e tantas outras), ficou ainda mais difícil responder a tantas dúvidas sobre relacionamentos, pois os meios de comunicação (computador, celular, etc.) proporcionam uma liberdade nunca antes imaginada. Porém, mais um questionamento: será que estamos preparados para lidar com esta tal liberdade?

Segundo Valdemar Setzer, Pesquisador e Doutor em Ciências da Computação, os meios eletrônicos, em especial o computador e a Internet, são instrumentos fundamentais no processo de degradação completa da dignidade humana. Parece muito radical, não é mesmo? Porém, quem está antenado com toda esta tecnologia e “vive no mundo virtual”, já deve ter percebido que por lá as coisas não estão nada fáceis! Setzer afirma que os “computadores são máquinas fascinantes”, mas “são muito perigosos”, porque simulam pensamentos restritos, é uma “máquina abstrata”, o computador “é alienado da realidade” e “induz a uma indisciplina mental”, porque não trabalha com materiais físicos, apenas com dados, pensamentos lógico-matemáticos, não restringindo fisicamente as ações de seus usuários.

“A Internet”, analisa o pesquisador, “pode ser uma manifestação de uma das possíveis atitudes negativas dos seres humanos: adiantar o futuro antes que estejamos maduros para isso”. Nesse sentido, Paulo G. P. Tessarioli, Psicólogo e Especialista em Terapia de Casais, Famílias e Grupos, acredita que muitas pessoas “colocam o novo, aquilo que está aí surgindo, dentro de sacos velhos”, em outras palavras, é o mesmo que dizer: agir no mundo virtual, que é algo novo, com padrões de comportamento típicos do mundo real. Em entrevista à revista “7dias”, sobre “Dor de cotovelo virtual”, Tessarioli comenta que “as pessoas se comportam como antigamente. Geralmente quem sente ciúmes virtual é quem também leva os fatos do mundo real para a Internet".

Setzer comenta que a liberdade é essencial ao ser humano, “só que ela só faz sentido se usada com critério e responsabilidade. Temos uma grande dúvida se a humanidade chegou ao ponto de poder contar com algo que envolva uma liberdade irrestrita”. Carolina Lima, que é estudante e uma das mulheres entrevistadas pela “7dias” confessa que vasculha a vida virtual do namorado, “já brigamos muito. Sei que é errado, mas é viciante, Ele já me traiu, perdi a confiança. Acesso seu Orkut para saber com quem se relaciona”. Tessarioli contesta: “É uma grande invasão de privacidade. Não existe traição virtual. E do mesmo jeito que ela se relaciona na internet, ele também tem esse direito”. Como podemos acreditar que existe traição virtual? Traição é a quebra de um pacto. Existem pactos virtuais?

Sobre ciúmes on-line, o Psicólogo se lembra de Bauman e afirma que "os vínculos humanos são frágeis. Não é a internet que deixa as pessoas neuróticas. Esse comportamento já faz parte da personalidade de cada um". Nesse sentido, Valdemar Setzer sinaliza outro problema, “a Internet exige um enorme esforço de autocontrole… É preciso muito critério para uma pessoa concentrar-se e buscar apenas o que lhe é útil, não ser atraído por baboseiras perniciosas”, como vasculhar a vida virtual dos outros, sendo que muitos “varam a noite ligados à Internet, sem um proveito mínimo”, conclui o pesquisador.

Para terminar, durante a entrevista, Tessarioli ressaltou que estamos na “era das conexões, cujo principal valor é o relacionamento” e sobre a dor de cotovelo virtual é enfático “tais desconfianças existem, mas devem ser controladas… Deve-se prestar atenção, primeiramente, nos seus próprios atos e depois reparar nas atitudes alheias”. Setzer acredita que essa tal liberdade que a Internet proporciona “parece maravilhosa, e deveria levar a uma maior responsabilidade e consciência. Mas temos dúvida se ela já é adequada à nossa constituição humana presente”.

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