sábado, 25 de junho de 2011

Você é dependente de amor?

Da mesma maneira que o organismo de um dependente químico se desequilibra quando falta a droga, o dependente afetivo entra em colapso quando é afastado da pessoa que "ama".

Paulo G. P. Tessarioli, psicólogo e especialista em sexualidade, é entrevistado por Denise Mello, repórter da revista Viva Saúde, da Editora Escala, para abordar um assunto pouco discutido na mídia, a dependência afetiva. Pode parecer estranho, mas é possível afirmar que algumas pessoas vivem a experiência amorosa com dor, sofrimento e em muitos casos podem matar ou morrer em nome do amor.

A carência afetiva profunda muitas vezes é desencadeada por fatores que acontecem ao longo da vida. "Nesse caso, não se trata de uma doença ligada ao código genético. A dependência amorosa é aprendida. Filhos adotivos, por exemplo, podem desenvolver a codependência quando convivem com ela nas famílias em que os adotaram", esclarece Paulo Tessarioli.

O especialista explica que a pessoa nasce dependente de seus pais, mas com o passar dos anos isso tende a mudar. O ser humano cresce, desenvolve a autoestima, a autoconfiança e, a partir daí, passa a estabelecer relações que não comprometam a sua individualidade. Porém, com o codependente esse processo é bem diferente. As pessoas que sofrem desse transtorno estabelecem relações problemáticas em que a base é o apego exagerado e imaturidade emocional em lidar com pessoas. "Quem vive a dependência de afeto nunca está satisfeito com as manifestações de carinho e atenção recebidas", alerta o psicólogo.


"Dependência de afeto", "dependência afetiva", "dependência amorosa", "codependência", "amar demais", são todos sinônimos que tentam dar conta desse fenômeno que muitas vezes nos assusta, que não encontra uma explicação racional, que não é privilégio de uma classe social ou está ligado a determinado nível de escolaridade. O caso mais fresco nas mentes de muitas pessoas e que ao mesmo tempo gera muita indignação é o do réu confesso Pimenta Neves.


Assim como o único caminho para a cura da dependência química é reconhecer a própria limitação diante da droga, para o dependente de afeto também é essencial ter a consciência de que sofre de um transtorno emocional grave e que precisa ser tratado. Segundo Tessarioli, relações de codependência geralmente terminam em três C's - Clínica, Cadeia ou Cemitério, acompanhe:

  • Clínica - antes que acabe de uma vez, a relação sinaliza a necessidade de ajuda profissional - médica e psicológica - pois os prejuízos são evidentes. Assim como em toda e qualquer dependência, há prejuízos físicos e emocionais na dependência afetiva, por exemplo, a obesidade e o abuso de substâncias químicas como álcool e drogas (as comorbidades mais comuns) e o humor deprimido cronificado, muitas vezes automedicado;
  • Cadeia - em muitos casos, a falta de limites é a tônica da relação e o desrespeito entre os parceiros é vivido cotidianamente, chegando em muitos casos às vias de fato, como nos casos de agressões físicas que comprometem a integridade da vítima, ou em casos extremos, na morte da companheira (o), a exemplo do que acontece nos crimes passionais;
  • Cemitério - fim da linha. A morte do dependente de afeto pode ser dar lentamente, como acontece em outros tipos de dependência e nos casos mais graves, caso nada seja feito e a intensidade da codependência aumente, o suicídio pode ser a saída encontrada pela pessoa que sofre quando ama.
O especialista orienta que parceiros(as) de pessoas com esse tipo de transtorno devem ser firmes, não alimentando atitudes doentias que sufocam a relação. "Há casos em que o esposo é muito ciumento - o mesmo que controlador - e a esposa, como forma de querer tranquilizá-lo, compartilha tudo com ele, até mesmo, a senha de seu e-mail particular. Situações como esta podem, ao invés de ajudá-lo, retroalimentar a sua dependência afetiva, prejudicando-o ainda mais", exemplifica.

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